Era eu criança, quando as mulheres operárias nos finais do século XIX iniciam a sua luta contra as jornadas de trabalho superiores a 12 horas.
Era eu uma jovem, quando a partir de 1908 se comemorou o primeiro dia nacional da mulher, lutando pela igualdade económica e política das mulheres, mas foi o protesto “Pão e Paz” das operárias russas a 8 de maio de 1917 que levou a que em 1921 esta data se consagrasse como Dia Internacional da Mulher.
No último ano da minha vida, 1975, comemorou-se o Ano Internacional da Mulher, tendo a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhecido oficialmente este dia como Dia Internacional.
Ao fim de uma vida pela luta da igualdade das mulheres, durante os quais, escrevi em vários jornais sobre a nossa condição de mulher trabalhadora e mãe, muitas vezes me senti solitária e pouco acompanhada de outras, já que era raro nós mulheres, não só lutarmos pelos nossos ideais como frequentarem a Universidade.
No meu último discurso, em 1974, manifestei mais uma vez o meu orgulho por ser mulher e a minha tristeza de não poder acompanhar no futuro a IGUALDADE de GÉNERO, foram estas as minhas palavras:
“Tenho muita pena de morrer qualquer dia. Palavra de honra que tenho!
Eu desejaria viver mais uns anos para ver uma coisa que para mim está a ser um milagre: o levantamento das mulheres portuguesas.
Por isso, desejava ver o futuro! Ver-vos a vocês todas, as raparigas, as mulheres casadas, a todas aquelas mulheres que pudessem colaborar na vida da Nação, que tirassem um bocadinho do seu dia, das suas horas de descanso, para lerem, para se cultivarem, para não terem medo da vida, porque a vida não nos mata, nós é que a matamos.”
Texto produzido pela docente Otília Jorge, enquanto responsável pelo Centro Documental Cristina Torres